Morador de Umuarama voltou do coma 10 anos depois: “Me assustei quando vi um amigo ao celular”

João Elizeu Navarro, de 54 anos, praticamente nasceu de novo. A história dele é uma lição de vida, afinal, foram praticamente 10 anos em coma, oito deles totalmente desacordado. Durante dois anos ele foi lentamente recobrando os sentidos, até que um dia, finalmente despertou.

                          

Navarro era gerente pós venda de uma concessionária em Umuarama e no ano de 1995 decidiu sair da cidade para trabalhar em outra loja da rede, instalada em Florianópolis/SC. Depois de um mês, já trabalhando na 'Ilha', ele se envolveu num acidente. "Eu apaguei quando pilotava minha moto Suzuki GXF 1100, de ano 94 a 180 km/h numa rodovia à beira mar". Estas são as últimas lembranças de Elizeu Navarro. O acidente foi no domingo, 27 de agosto de 1995.
                         

“Desde lá, não me lembro mais de nada, até quando acordei realmente, em 2005”, conta. Navarro abriu os olhos no dia em 31 de maio de 2003, mas ainda se considerava em coma, mesmo já desacamado. Foi só em 2005 que recobrou os sentidos. Durante estes dois anos ele estava acordado, mas “ainda vegetava, não dava conta das atitudes. Só após 10 anos é que consegui rever meus amigos", diz.
                          

Ele brinca: "A maioria dos amigos já tinha cabelos brancos, outros sem cabelo nenhum e eu me sentia ainda jovem, como se tivesse apenas dormido uma noite”.
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PAI CUIDOU
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Durante os oito anos em que ficou acamado, o pai João Navarro (hoje com 84 anos), foi quem cuidou do filho e o carregou de Umuarama para hospitais no estado de Santa Catarina e para Brasília. Apesar das dificuldades ele não perdeu a esperança, mesmo sendo desacreditado por profissionais de saúde que vieram até da França conhecer pessoalmente o caso.

“Um médico veio da França para ver meu filho no Hospital Sarah Kubitschek e disse que jamais ele deixaria de ser um paciente ‘babão’. Pra mim foi um milagre, tanto que tá aí, forte e não ‘baba’ mais”, brinca João. Hoje, com problemas de saúde que afetaram seu pulmão, seu João é auxiliado em casa pelo filho cadeirante. “Aqui um ajuda o outro. Como dizem por aí: uma mão lava a outra”, ressalta João.

Pai e filho sabem brincar com as palavras. O tempo todo em que conversaram com OBemdito eles contaram piadas ao relembrarem das dificuldades enfrentadas durante todos aqueles anos, tanto que Elizeu sorri ao comentar sobre o rosto que encontrou quando se olhou no espelho, 10 anos depois do acidente. “Assustei. Olhei para um rosto velho (brinca), foi então que me dei conta de que tinha ficado todos aqueles anos numa cama”.
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CELULAR? O QUE É ISSO?
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As mudanças pouco a pouco foram aparecendo. Uma delas, a tecnológica. Quando amigos chegaram pra visitá-lo e usavam o telefone celular, por exemplo. “Perguntei pro Ney da Eurocar: o que é essa caixa de fósforos que está levando ao ouvido?” indaga.

Agora, depois de 13 anos que acordou do coma, Elizeu já faz praticamente tudo sozinho. Se movimenta com sua cadeira de rodas, usa celular e computador normalmente e já se acostumou com o equipamento. Até dirigir ele consegue, apesar das sequelas que afetaram os sentidos de equilíbrio e deixaram os movimentos mais lentos. “O carro é automático e não precisou ser adaptado. Sempre acompanhado do pai eu dirijo pela cidade normalmente, devagar é claro. Tirei até carteira”, se orgulha, também mostrando o Chrysler 2009 estacionado na garagem.

Elizeu e João Navarro sobrevivem com os recursos das aposentadorias dos dois, numa casa própria na rua dos Pampas. Pra aumentar a renda da família, João é artesão em vidro. Apesar de tantas dificuldades, essa dupla deixa uma verdadeira lição de como lidar facilmente com os problemas no dia a dia, por maiores que eles sejam.
O filho praticamente perdeu a vida, mas voltou pra dar alegria ao pai que por sua vez tirou da esperança, toda a vida que queria que fosse trazida de volta. “Deus está aqui e acorda as pessoas quando elas precisam. Nunca desligue nada. O milagre tá aí pra ser visto”, encerra emocionado Elizeu Navarro. (O Bem Dito).