Calero diz à Polícia Federal que Temer o pressionou no caso Geddel e oposição articula pedir o impeachment do presidente
A
conversa ocorreu um dia antes de Calero pedir demissão do cargo. SOBRE O
CASO - O ex-ministro da Cultura Marcelo Calero disse, em depoimento à
Polícia Federal, que sofreu pressão do presidente da República, Michel
Temer, para encontrar uma solução para o projeto imobiliário de Salvador
em que o ministro Geddel Vieira Lima tem um apartamento. O Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional embargou a obra. Ele prestou
depoimento à Polícia Federal no último dia 19 de novembro, e trouxe
novos detalhes da pressão que diz ter sofrido no governo para liberar a
construção de um prédio em Salvador onde o ministro da Secretaria de
Governo, Geddel Vieira Lima, tem um imóvel.
Calero afirmou no depoimento
que no dia 6 de novembro recebeu a mais contundente das ligações
realizadas por Geddel, e que Geddel disse, “sempre de maneira muito
arrogante, que se fosse preciso pediria a cabeça da presidente do Iphan e
que falaria até com o presidente da República”. O Iphan é o Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que embargou a obra.
Marcelo Calero afirmou que em outro dia recebeu uma ligação do ministro
da Casa Civil, Eliseu Padilha, que argumentou "que, se a questão estava
judicializada, não deveria haver decisão administrativa definitiva a
respeito", e que Calero tentasse construir essa saída com a
Advocacia-Geral da União. O ex-ministro da Cultura também afirmou no
depoimento que no dia 16 de novembro compareceu a um jantar oferecido
pelo presidente aos senadores no Palácio da Alvorada, e que após
contar-lhe toda a história, o presidente disse a Calero “para que
ficasse tranquilo, pois, caso Geddel lhe procurasse, ele diria que não
havia sido possível atender a seu interesse, por razões técnicas”. -
Leia mais clicando no link abaixo
No
dia seguinte, o ministro Eliseu Padilha telefonou perguntando sobre como
Geddel poderia recorrer da decisão do Iphan. Em resposta, Calero conta
que explicou como funcionam genericamente os recursos de atos
administrativos. No mesmo dia, Calero afirmou que foi convocado pelo
presidente Michel Temer a comparecer no Palácio do Planalto, e que nesta
reunião o presidente disse a ele que a decisão do Iphan havia criado
dificuldades operacionais em seu gabinete, já que o ministro Geddel
encontrava-se bastante irritado, e que o presidente disse para que
Calero construísse uma saída para que o processo fosse encaminhado à
AGU, porque a ministra Grace Mendonça teria uma solução. Calero afirmou
que, no final da conversa, “o presidente disse que a política tinha
dessas coisas, esse tipo de pressão”.
O ex-ministro da Cultura afirmou
que, ao final da conversa com o presidente, ficou bastante desapontado,
uma vez que foi advertido em razão de ter agido sem cometer qualquer
tipo de irregularidade; e que, por fim, disse ao presidente que não se
sentia à vontade para tomar qualquer decisão naquele processo, e assim
despediu-se de Temer. Marcelo Calero disse ainda no depoimento que no
dia seguinte recebeu uma nova ligação do secretário de Assuntos
Jurídicos da Casa Civil, Gustavo Rocha, e que Gustavo comunicou a ele
que havia ingressado com recurso da decisão administrativa junto ao
Ministério da Cultura e ao Iphan, e que Calero deveria encaminhar os
autos do processo para a AGU.
Calero disse que respondeu que já havia
tratado a respeito deste assunto com o presidente, que não tomaria
qualquer decisão neste processo. Segundo o ex-ministro da Cultura,
Gustavo Rocha disse que também havia conversado com o presidente e que
seu intuito era o de que Calero encaminhasse os autos para a
Advocacia-Geral da União. O ex-ministro da Cultura disse que este último
episódio foi determinante para a saída dele do governo, pois
demonstrava a insistência do presidente em fazer com que ele
interferisse indevidamente no andamento do processo. Foi no dia 18 de
novembro, depois de receber o telefonema do secretário da Casa Civil,
Gustavo Rocha, que Marcelo Calero pediu demissão do cargo de ministro da
Cultura.
Depois do depoimento, a Polícia Federal pediu autorização ao
Supremo Tribunal Federal para abrir inquérito sobre o caso, e aguarda a
decisão da Corte. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, admitiu que
conversou com o ex-ministro Calero sobre o prédio em Salvador, mas,
segundo ele, para que fosse encontrada uma solução na forma da lei.
Padilha disse que, diante da controvérsia entre órgãos públicos
federais, sugeriu que Calero buscasse a Advocacia-Geral da União, já que
a Constituição prevê que cabe à AGU identificar e propor soluções para
questões jurídicas relevantes nos órgãos federais. Ainda segundo
Padilha, Calero ignorou a sugestão. Gustavo Rocha disse que sua conversa
com Calero foi no mesmo sentido, de encaminhar a questão para a AGU, em
decorrência da competência constitucional do órgão.
Porta-voz diz que o
objetivo do presidente era arbitrar conflitos entre os ministros. O
Palácio do Planalto também reconheceu as conversas do presidente Michel
Temer com Marcelo Calero sobre o prédio em Salvador. Segundo o
porta-voz, o objetivo do presidente era arbitrar conflitos entre os
ministros. “O presidente Michel Temer conversou duas vezes com o então
titular da Cultura para solucionar impasse na sua equipe e evitar
conflitos entre seus ministros de Estado. O presidente da República
trata todos os seus ministros como iguais e jamais induziu algum deles a
tomar decisão que ferisse normas internas ou suas convicções.
É a mais
pura verdade que o presidente Michel Temer tentou demover o ex-ministro
de seu pedido de demissão e elogiou o seu trabalho à frente da pasta. O
ex-ministro sempre teve comportamento irreparável enquanto esteve no
cargo. Portanto, estranha sua afirmação, agora, de que o presidente o
teria enquadrado ou pedido solução que não fosse técnica”, afirmou
Alexandre Parola. Segundo o porta-voz, o presidente Michel Temer se
disse surpreso com boatos de que o ex-ministro Calero teria solicitado
uma segunda audiência antes de se demitir, somente com o intuito de
gravar clandestinamente conversa com o presidente da República para
posterior divulgação. (Jornal Nacional e CBN/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela participação.